sábado, 30 de agosto de 2008

Richard

Eu o observava de longe, seus traços, o jeito como sua boca encaixava-se perfeitamente na xícara e como sua língua limpava o resto de café que ficava em seus lábios. Seus olhos distantes e sem expressão alguma não davam o mínimo de atenção para as pessoas através da janela. Ele me procura, sei que me procura. O tempo estava muito gelado e ventava forte. Um tufão passou e levou o chapéu de um moço para bem alto, ele não pôde evitar a risada, sua linda e inaudível risada, como eu queria estar lá. O moço corria atrás do chapéu e outras pessoas tentavam pegá-lo também, ele não parava de rir ate que a garçonete chegou com suas panquecas, sempre as panquecas de queijo. Pegou os talheres e se pôs indiferente ao acontecimento lá de fora, a primeira mordida e o suspiro baixo, como quem aprecia as pequenas coisas da vida. Eu o observava todas as manhãs e sempre me escondia em algum lugar diferente, era uma coisa minha, era uma coisa nossa. Me levantei de onde estava e caminhei até a janela sem tirar os olhos do meu garoto, ele sorriu ao me ver e eu fiz o mesmo, me encolhendo ao sentir um vento frio bater em meu rosto. Entrei na cafeteria e me sentei à sua frente puxando um assunto sobre o tempo que sempre se esticava por horas e mais horas até eu ter que ir para a escola.

Um comentário:

Leandra Postay disse...

Gostei muito disso, Clara. (:

Seus textos são auto-biográficos?